domingo, 5 de abril de 2009

O magrelo, o forasteiro e a construção de JoinvilleRockCity.

No momento em que é inaugurado o Blog Oficial do Programa É Rock!, peço licença para fugir um pouco da pauta do programa e compartilhar uma história que pouquíssimas pessoas da comunidade criada por mim há 4 anos teve a oportunidade de conhecer.
Minha missão aqui no blog será de fazer a sua ligação com a COMUNIDADE NO ORKUT, recebendo e publicando em nosso podcast as músicas produzidas pelas bandas cadastradas no BANCO DE BANDAS DA COMUNIDADE e recebendo críticas, sugestões ou artigos candidatos a publicação nesse espaço.
Então vamos lá!

Era o começo do ano de 1993 e um adolescente forasteiro entediado com a mesmice musical da cidade passava os dias ouvindo umas fitas cassetes, que um amigo havia gravado em suas férias em São Paulo.
Enjoado de ter como opção de curtição naquela ocasião algumas baladas como Chamonix, Hariah, Baturité e Plataforma, aquele guri sentia na pele o preconceito e a solidão por ter um gosto musical tão diferente das pessoas dali.

Mas logo na primeira semana de aula, numa sala onde não conhecia ninguém, o forasteiro tomou contato com um magrelo que sentava à sua frente. Um cara calmo e também ótimo aluno. Eram duas figuras que não se enquadravam nos estereótipos clássicos de “nerds”, atletas, “playboys” ou problemáticos se diferenciando da maioria por serem uma mistura de cada uma dessas coisas no limite da ocasião e do bom senso.
Não custou para o magrelo se interessar em ver as tais fitas, sempre com a humildade e paciência que lhe era característica. E então na primeira oportunidade, o forasteiro teve uma incrível surpresa:

O magrelo danado reconheceu tudo o que estava ali, aproveitando pra contar mil histórias sobre cada uma das bandas: Kraftwerk, Syster of mercy, The Glove, Jesus & Mary Chains, lançando como fogo todo o seu conhecimento e interesse por música e lembrando, caso por caso, como cada banda havia se formado e muitas delas dissolvidas com o passar do tempo. Quase uma enciclopédia ambulante!
Numa época em que a internet não era popular e praticamente não havia opção para o público rock da cidade (era preciso ir a Jaraguá do Sul, pra assistir a um show dos Paralamas), o magrelo colecionava materiais e releases de bandas sei lá onde conseguidos, mas que eram guardados e exibidos aos amigos como um grande tesouro.
É claro que isso se transformaria numa incrível amizade, recheada de aventuras e loucuras típicas desse período da vida, em uma mistura de afinidade musical, respeito e companheirismo que mesmo submetidos ao tempo e a distância, permaneceria esses anos todos quase inabalável.

E o magrelo com todo aquele conhecimento já aos 17 anos, vivia propondo ao forasteiro doidão:
“- DOM, precisamos montar um programa de rádio. Pra agitar a cena rock dessa cidade, que tem pouquíssimas opções.”
Claro que o forasteiro cético que imaginava ser grande a dificuldade de se ter acesso à grande mídia não desestimulava o amigo, mas por outro lado, dentro de si, não alimentava esperanças de que isso pudesse se transformar em realidade um dia.
Em pouco tempo ele retornou à sua cidade natal, e o contato dos dois passou a ser quase uma raridade. Alguns anos se passaram e em uma nova visita à Joinville, o forasteiro soube da novidade, contada com a humildade de sempre:
“- Ai DOM, estou fazendo um programa na rádio sobre rock´n roll. “
Mas uma vez o forasteiro quase desabou!
Inacreditável. O antigo sonho se transformava em realidade.
E o Programa É Rock! segue a caminho do seu nono aniversário trazendo muito mais do que música e entretenimento a nossa cidade do coração.
Não é necessário viver na cidade pra perceber o quanto ela mudou nesse período e nem o quanto esse programa ajudou a influenciá-la, pelo surgimento de novas opções para esse público, pelos shows, que foram trazidos à cidade nos últimos anos, pela contribuição prestada pelo Festival É Rock! e pela formação de bandas que já começam a invadir os palcos em outras grandes cidades.

Reino Fungi em São Paulo (Março de 2008)
Há quatro anos, com o surgimento dos sites de relacionamento, o forasteiro, doravante identificado como esse que vos escreve, teve a honra de criar a comunidade É Rock – Joinville, para homenagear o amigo magrelo da adolescência Fabio Raposo, que hoje reúne um pouco mais de 600 colaboradores e mais do que servir de troféu pelas conquistas do visionário amigo, criou uma nova dinâmica na relação do programa com seu público, mantendo com esse uma grande parceria com total independência à missão criativa e crítica de cada um dos canais.

Foi possível através da comunidade no orkut participar da programação do É rock!, indicando nossas músicas e sugerindo pautas de programas, e ainda apoiando e patrocinamos promoções, como “quiz é rock” e “produtor é rock por um dia”. Cobrimos o “Pelada É Rock!”, criamos um banco de bandas servindo como meio de divulgação de seus trabalhos, e nos organizamos para eleger democraticamente as nossas comunidades relacionadas, em uma iniciativa sem precedentes do bom uso das ferramentas do orkut em benefício real da comunidade participante.

Protestamos ativamente contra a não realização do festival no aniversário da cidade em 2007 a ponto de autoridades e caciques da produção de evento$$$ na nossa região ficarem bem preocupadas, com emails pipocando na prefeitura, fundação cultural, imprensa e mais de 150 manifestações postadas em nossa comunidade.

Naquele momento eu entendi a força e a importância do programa É Rock e da nossa comunidade!

Também no nosso espaço no orkut, vi brotar iniciativas das novas gerações de roqueiros, como é o caso do pessoal do JOINVILLE ROCK FORUM da DIVERCIDADE JOINVILLE e do ROCK IN CITY . É a geração que cresceu ouvindo o programa que vai chegando ao poder, mantendo a mesma atitude deflagrada no passado pelos pioneiros do É Rock!

Ainda temos muito a fazer, mas a filosofia na condução da comunidade está mantida: Divulgar as bandas nativas da nossa região e fazer intercâmbios com bandas de outras localidades levando preceitos como amizade, companheirismo, paz e compromisso social, por entender que se rock é música de protesto, não queremos estar no lugar comum, da violência, do “Jabá”, do uso político das boas iniciativas populares, da manipulação de massas, do preconceito e de uma visão puramente comercial da música e dos eventos culturais e artísticos.
Eu particularmente, aprendi muito com todos vocês, e algumas pessoas que eu não conheço pessoalmente já são tratadas como amigos.
Recebo orgulhosamente pelo orkut, um amontoado de convites para eventos que eu costumo apoiar, publicar na comunidade ou encaminhar para a produção do programa. Eu adoraria poder prestigiar a todos eles, mas os 534 km que me distanciam não me permitem estar sempre presente.

Algumas bandas do nosso banco eu nunca ouvi pessoalmente e na maioria das novas baladas de rock da cidade eu nunca pisei. O próprio programa É Rock! eu não tenho condições de ouvir por algumas limitações técnicas. Mas já pude em alguns casos ajudar mesmo à distância, festejando cada iniciativa de vocês e do programa como se fossem minhas próprias criações. Aquele ceticismo adolescente se substitui pela amizade e confiança em seus potenciais, como forma de retribuir os presentes que me foram oferecidos por vocês no passado.

Por muito tempo eu custei em tomar a decisão de informar a comunidade sobre o fato de eu viver em São Paulo, por achar que as pessoas poderiam pensar:
"O que esse cara forasteiro vem fazer aqui, dando palpite na vida rock da nossa cidade, sem estar presente e sem saber das coisas."

Àqueles que por ventura pensarem assim, registro alguma frustração pelo fato de a cultura da cidade não ter se modificado o suficiente. Mas eu amo Joinville, por entender que vale a pena ajudar a construí-la, sobretudo pelas amizades e por essas histórias, que preenchem plenamente a distância que me separa daí e que me permitiu como ser urbano (e humano, claro!), entender que as minhas ações e idéias, mesmo à distância, são capazes de repercutir, influenciar e sensibilizar essa cidade.

Agradeço a todos que participam ativamente da nossa comunidade, em especial aos amigos: Igles, Juliana, Raposinha, Doug, Helliot Jr, Hesséx, Allan do “Karadura”, Germano Busch, Valine e Gustavo, Ademar Podekre, Richard Furtado, Alexandre Setter, Antero Santos (o cara que gravou as "tais fitas"), Gustavo da “Cultura Monstro”, Beto do “El Kabong”, Marcos Mayer, Kleber Dresch, Mura Walsh, Kinho, Duh_Hs, Gustavo do “Taberna”, ao Parffit, Rizzati e Rubens Herbst, ao Jaime da Rock Total Discos e a todas as bandas e amigos da comunidade por não ficarem esperando a vida passar à toa e a ajudar a construir uma city, onde antes havia apenas uma ville!

Ao irmão por consideração Fabio Raposo, minha maior homenagem em nome da história que já construímos e daquela que ainda será produzida por nós e através das sementes que deixamos nesse planetinha distante, personificada em nossos filhos que receberam o mesmo nome, em mais uma dessas coincidências produzidas pelos deuses do rock em resposta ao grande sentido da vida.

Grande abraço do humilde combatente da comunidade que homenageia as atitudes que fazem sonhos e objetivos se transformar em realidade.
Pé na tábua rumo a nossa JoinvilleRockCity!
Douglas Dantas
Ou apenas “DOM”, para o grande amigo joinvilense.

4 comentários:

  1. pessoal, este blog de vcs é fenomenal...
    sou o guitarrista do Instiga ( www.instiga.com )
    escutem nosso trabalho se tiverem um tempo..
    lançamos a pouco tempo nosso terceiro disco chamado "Tenho uma banda"
    lançamos também um clipe
    http://www.youtube.com/v/9Fq7bEemJDo

    deem um ouvida..gostaria de ter o contao de vcs!
    abração

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  2. Ora veja só o que encontro aqui!
    Se eu não me engano - e eu não me engano, ali naquela sala do 3ºB, bem ao lado das carteiras do magrelo e do forasteiro, tinha uma menina, por assim dizer, um tanto quanto tímida, que fazia caras de - e por que não dizer – um pouco antipática, mas que também não se enquadrava nos estereótipos clássicos dos nerds, atletas ou playboys...
    Também ela curtia um bom rock, apresentado pela sua até hoje amiga Andresa, a De, do 3ºA, que a socorreu daquele mundinho de estereótipos e a levou para conhecer os botecos do Glória!
    Da falta de comunicação daquela época - e talvez exatamente por isso, restou à menina cursar jornalismo.

    Só para constar neste baú de memórias: quando veio morar em Joinville, a menina também estudou, na 5ª série, com um garoto muito tagarela - então futuro roqueiro, predestinado pelo nome esquisito e pelo bom gosto musical hereditário (penso eu). Tá fácil né?!

    Bela história, boas lembranças!
    De link em link acabei achando a comunidade do É Rock! no Orkut e essa grata surpresa no blog.
    Parabéns Fábio e Douglas!
    Valeu!!!

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  3. Grande Christian,

    Considere-se da família da Comunidade É Rock! - Joinville. Espero ouvir o Instiga tocando no Podcast daqui do blog, assim que possível e brevemente nos palcos de Santa Catarina.

    Aline,
    Que alegria e supresa encontrá-la aqui, depois de todos esses anos.

    Lembro exatamente e com muito carinho da menina sentada ao lado das personagens que motivaram esse artigo.
    ...

    É claro que todas as pessoas têm incríveis talentos e potenciais que acabam sendo desenvolvidos (ou não) no decorrer da vida, não podendo ser resumidos a esses estereótipos, como infelizmente ainda ocorre em muitos lugares.

    Espero que iniciativas como essa do É Rock! tenham contribuído para quebra dessa idéia de desrespeito e intolerância em nome dos talentos que acabam sendo reprimidos ou perdidos no decorrer da nossa jornada da vida.

    Grande Abraço!
    DD

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  4. Adoreiiii...Opções e diversidade na cidade, hj já existem locais onde vc pode curtir vários tipos de Música, mas é claro, precisa mais!! Q bom que vc fez um blog, irá ficar impressionado com o alcance q ele pode ter!!! bjo

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